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Foto do escritorValdemir Pires

13. O tempo é relativo (Tempo - Livro I)


Arte de Camilo Riani.


O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, sem relação com nada de exterior, flui uniformemente e se chama duração. (...) O espaço absoluto, sem relação com as coisas externas, permanece sempre similar e imóvel” (Isaac Newton, 1643-1727).


Sustentada por uma teoria consistente e elegante, formulada por um dos maiores gênios da humanidade, esta afirmação, de 1687, permaneceu inquestionável até 1915, quando outro gênio, Albert Einstein (1879-1955), afirmou:


Temos que levar em conta que todos os nossos juízos em que o tempo toma parte são sempre juízos de acontecimentos simultâneos. Se, por exemplo, eu digo “aquele trem chega aqui às sete horas”, quero dizer algo assim: “A marcação do número 7 pelo pequeno ponteiro do meu relógio e a chegada do trem são acontecimentos simultâneos”.


A medição do tempo, portanto, não é o tempo. E Einstein, dirá, ligando o espaço ao tempo, rumo à “materialidade” da variável que lida com a duração:


Se quisermos descrever o movimento de um ponto material, damos os valores das coordenadas como função do tempo. Agora, devemos ter em mente com cuidado que uma descrição matemática desta espécie não tem sentido físico nenhum, a menos que sejamos bem claros sobre o que entendemos por ‘tempo.


Concluirá, partindo da estabelecida fórmula de Lorentz (em que o tempo depende do referencial, sendo, portanto relativo), que o tempo é uma dimensão a mais de um espaço, a quatro dimensões, o “espaço-tempo”, a quarta dimensão.

Fácil notar que a noção newtoniana do tempo (tempo é duração invariável), cientificamente superada pela teoria einsteiniana, é “confortável”, mantendo o tempo como uma variável livre de questionamentos complexos demais (Que diabos é isso de espaço-tempo, quarta dimensão?). Ela nos dá confiança para, utilizando apenas nossos relógios e cronômetros, realizar e monitorar nossos fazeres quotidianos, com economia de tempo e redução de desencontros. Mas ela não tem base física, pois o tempo absoluto, invariável, é uma noção meramente metafísica. Então, como continua funcionando e tão bem? Porque basta para os fazeres humanos na superfície do planeta. A teoria da relatividade einsteiniana, por seu turno, está em busca de uma compreensão do tempo num âmbito em que a verdade é cósmica, e não apenas uma base para a organização da vida dos homens no seu quotidiano e na sua história.

Num sentido estritamente científico e não corriqueiro, então, o tempo não é o mesmo em todas as circunstâncias. Responder quando alguém pergunta que horas são, obtendo a informação no relógio, ainda que seja um de sol, não é dar uma resposta de validade universal. Como a Física lida com este problema de grande monta?

Os físicos buscam soluções comportando-se como cientistas, ou seja, testando hipóteses, fazendo uso de métodos confiáveis, em busca da verdade aplicável a qualquer situação, em qualquer lugar, a qualquer momento. No caso da comprovação de que o tempo é relativo foi preciso encontrar uma variável imutável, na qual confiar, para averiguar, experimentalmente, se o tempo “muda de tamanho” ou não ao longo do deslocamento de um corpo no espaço. A variável foi encontrada: a luz, que viaja sempre à mesma velocidade no vácuo (299.792.458 km/s), esteja ou não em movimento a sua fonte. Sendo esta uma constante universal, o intervalo de tempo que leva um raio de luz para ir de um ponto a outro é igual ao tempo para voltar, daí resultando uma sincronicidade livre de questionamentos, que permite comparar tempos em diferentes pontos do Universo. Eureka! Uma velocidade (especial como a da luz) tomada como constante (porque isso é possível concretamente, de maneira controlada), em vez do tempo como constante, para provar que este é relativo! Velocidade que, antes era apenas uma operação matemática: espaço percorrido dividido pelo tempo utilizado para percorrê-lo. Isso, sim, foi, verdadeiramente, lançar luz sobre uma questão.

Sabemos, com segurança, hoje, que três homens viajando dentro de um trem (um deles sentado e dois deles se movendo em direções contrária dentro do vagão) e outro parado na plataforma, estão sob ritmos diferentes de evolução do tempo. Mais surpreendentemente, sabemos que um astronauta que viaje no espaço a velocidades extremas, ao retornar à Terra estará mais jovem do que se aqui tivesse permanecido, ou seja, o tempo desacelera quanto mais rápido o corpo se move! Se alguém perguntar se a diferença existe também para alguém que viaje de avião, à velocidade do som, a resposta será sim. Só que a juventude adicional do viajante em relação a quem fica não é tão grande, portanto, não perceptível.

A teoria da relatividade não impacta apenas a noção de tempo, mas também a de espaço (o espaço se contrai quanto maior a velocidade!) e a de gravidade (o espaço e o tempo são como um tecido que pode ser torcido e dobrado dependendo da massa que pressiona um determinado ponto!). Ao analisar matematicamente e observar (tanto quanto possível com os meios disponíveis) fenômenos de dimensões cósmicas (grandes massas, grandes distâncias, velocidades extremas etc.), os físicos contemporâneos chegam a conclusões que parecem disparatadas quando comparadas com o que se vê no dia-a-dia na Terra. Quando eles fazem o movimento contrário – dedicam-se à análise de fenômenos nos níveis atômico e subatômico (Física quântica) – também descobrem coisas e relações muito estranhas. É como se vivêssemos numa dimensão situada entre o ínfimo e o infinito, na qual o que acontece é exceção, ou, não chegando a tanto, o que aqui acontece tem características que não conseguimos perceber na totalidade e profundidade que o olhar micro e o olhar cósmico permitem. E nos damos por satisfeitos, porque esta limitação cognitiva não nos impede de sobreviver e viver, de ir levando a vida; a percepção superficial do mundo, obtida nessa bolha entre o cósmico e o atômico, que configura a dimensão da nossa quotidianidade, regida pelo senso comum, talvez seja, até, necessária, para não enlouquecermos de tanto saber, sem entender o porquê disso tudo.






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