Imagem: Caspar David Friedrich, The Stages of Life, óleo sobre tela, 1835.
Nascemos, crescemos e morremos. Inevitavelmente e nesta inevitável ordem. Nascer e morrer acontecem totalmente fora do nosso controle. Sobre o crescer – ou viver – temos alguma possibilidade de interferência, nunca absoluta: o fraco pode se fazer forte e vice-versa, o ignorante pode se tornar culto (nunca o contrário), o pobre pode ficar rico e vice-versa, difícil o feio vir a ser belo (o contrário é fácil), quem está na trilha do envelhecimento não pode voltar para a da adolescência (dando as tentativas ridículas a prova disso) etc.
Feitos para acabar, não apreciamos lembrar disso, e se lembrássemos frequentemente, talvez não suportássemos seguir em frente. Em vez de remoer que há um fim, nos concentramos na movimentação e nos relacionamentos possíveis. E os melhores de nós fazem isso tentando deixar a Morte de consciência pesada por interromper o que ia sendo bom, belo ou bom e belo; fazem isso na tentativa de obter dos que ficam um “Oh, que pena! Ficamos órfãos dos benefícios que nos proporcionava”. Os melhores procuram ser chama de cujo calor e de cuja luminosidade não se esquece facilmente, por razões que nos escapam e também a eles, muitas vezes.
O Acaso nos traz ao mundo; a Morte, com auxílio dele, nos leva embora. Acaso, Morte e Tempo: trio que permanece conosco a vida inteira. Morte ameaçando sempre (Bicho chato!), Acaso o tempo todo aprontando das suas (boas, de mãos com a Sorte; ruins, em parceria com o Infortúnio). Tempo nos esfarelando aos poucos (cúmplice da Morte).
O Tempo entra dentro de nós assim que o ventre materno nos expele. Daí em diante veste as máscaras da Idade: Infância, Adolescência, Juventude, Maturidade, Velhice.
Infância é a máscara desenhada pela Inocência. Adolescência, quem confecciona é a Inconformidade, com auxílio da Rebeldia Sem Causa. Juventude é obra da Bem-Aventurança, com detalhes incluídos pelo Desejo. Velhice é a própria Morte que fabrica, nas suas horas vagas tentando ser artista. Maturidade é a máscara que nós mesmos criamos, definindo-a aos poucos; é a que melhor adere às nossas feições, graças à ajuda que no ateliê recebemos do Autoconhecimento, quando o convidamos.
Velhice Viva é aquela máscara que colocamos em nosso rosto com ajuda da Sabedoria: ela contém um pouco do melhor de cada uma das máscaras anteriores e nos permite conviver sem o sentimento de fim, de derrota, com os iguais e com todos aqueles que estão chegando ou a meio caminho. Velhice Viva é um tesouro, escondido atrás do muro que pertence ao casal Desistência e Desalento, muro indestrutível, mas não incontornável.
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