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Foto do escritorValdemir Pires

8. Tempos micro, meso e macro (Tempo - Livro I)


Arte: Foto de Raphael Pena, jornalista e fotógrafo.


O tempo que corre e podemos “sentir”, imaginar e medir é aquele que está além da efemeridade e aquém da eternidade. Diante da nossa, efêmera é a vida da borboleta, eterna é a duração da montanha, infinita é a existência das estrelas.

Nem efêmeros, nem eternos – assim nos vemos e assim nos sentimos, com pena das borboletas (ah, bem poderia cada uma delas desfilar sua alada exuberância por uns cinco anos!) e com inveja das montanhas e estrelas (ah, poder esquecer o tempo como elas, placidamente!).

Com que urgência têm que se reproduzir as borboletas para não desaparecerem do planeta! Com que imperial tranquilidade assistem as montanhas e as estrelas à sucessão de gerações de borboletas e homens! Somos, em meio a essa dinâmica dos corpos no tempo, um meio termo medíocre e ansioso, nem lá, nem cá – tempo meso.

As estrelas, que mal vemos (por distantes demais) e admiramos, flutuam no tempo sideral, tempo macro, medido em fantasmagóricos anos-luz, parecem imóveis. As partículas subatômicas (invisíveis aos nossos olhos), por sua vez, fugidias, aparentemente sem sossego, alternando entre massa/partícula e energia/onda, estão mergulhadas no tempo quântico[1], tempo micro, em transformação a cada fração infinitesimal de segundo. Os extremos são tão distantes entre si, considerando-se o sideral e o quântico (enquanto não surge uma “teoria de tudo”), que, estando conosco no tempo planetário, as montanhas são praticamente nossas irmãs em idade.

Essas constatações, teoricamente tão complexas a ponto de desafiar a aceitabilidade de nosso modo de entender o mundo, são vertiginosas e até mesmo assustadoras. De fato, colocam em xeque os fundamentos de nossa racionalidade, que mal começa a abordar o que está além da percepção mesocronológica que nos é acessível e nos impede de compreender as dimensões sideral e quântica do mundo.

Nossa constituição física-celular e mental-sináptica, de duração limitada, não nos faz mais, nem nos faz menos que uma estrela (dimensão macrotemporal) ou um neutrino (dimensão microtemporal). Mas nos faz, sem dúvida, muito mais estranhos e incompreensíveis, como parte do Universo, por termos o que denominamos vida inteligente, capaz de lidar consigo e buscar a compreensão de si. Também na dimensão mesotemporal o mistério (humano) está presente e atua, poderoso como uma montanha, belo como uma borboleta, brilhante como uma estrela muito distante (que, todavia, não ilumina).




[1]Na gravidade quântica em loop, espaço e tempo não existem como estruturas gerais para enquadrar o mundo, descobre-se em “A realidade não é o que parece” (2014), de Carlo Roveli (1956-).

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